O cenário econômico para 2021

  • Cenário Econômico

 

Em conversa com o Valor Econômico nesta terça-feira, dia 19/01/2021, o professor Armando Castelar, membro do Comitê Acadêmico-Pedagógico do DEJ e economista do IBRE, teceu comentários acerca do cenário econômico para 2021.

 

O primeiro tema do debate foram as perspectivas neste novo ano para a economia internacional. Castelar destacou a importância da declaração de Janet Yellen, recentemente indicada por Joe Biden para o cargo de Secretária do Tesouro norte-americano, afirmando que estamos em um momento em que os EUA devem "agir grande" ("act big"). Trata-se de um indicativo de que a política fiscal do novo governo democrata adotará um viés expansionista, e já se discute nos EUA um pacote fiscal de US$ 1,9 trilhão, acompanhado por investimentos em infra-estrutura na ordem de 3 a 4 trilhões de dólares. A estratégia econômica de Yellen busca aproveitar o momento propício à adoção de uma política fiscal expansionista, tendo em vista a tendência de juros baixos sustentados que as economias desenvolvidas vêm apresentando nos últimos anos.

 

Essa nova política econômica baseia-se, em parte, na hipótese da estagnação secular, proposta por economistas como Laurence Summers e Olivier Blanchard, segundo a qual as taxas de juros reais de longo prazo permanecerão baixas nas economias centrais em razão de condicionantes estruturais. São apontados como fatores que estariam contribuindo para a persistência dos juros baixos: (1) a demanda agregada deprimida pela estrutura de concentração da renda, (2) o fim do período de expansão demográfica nos países desenvolvidos, (3) a queda do preço de bens de investimento, (4) o acúmulo de reservas internacionais por economias emergentes, como a China e o Brasil, e (5) a estagnação da produtividade em razão de níveis históricos sub-ótimos de investimentos em infraestrutura e educação por parte de grandes economias, como os EUA.

 

A despeito do debate ainda em aberto acerca da validade da hipótese da estagnação secular, o cenário de baixas taxas de juros nas economias maduras de fato vem favorecendo políticas econômicas expansionistas, tanto monetárias (a exemplo da política de afrouxamento quantitativo), quanto fiscais. Segundo Castelar, tudo indica que as autoridades monetárias dos EUA adotarão uma postura de maior tolerância em relação à inflação nos próximos anos. Os pacotes fiscais do governo Biden serão financiados por dívida pública, mas os juros baixos permitirão que o nível de endividamento do Estado americano não saia do controle no longo prazo. A posição da economia americana é peculiar, pois os EUA são o único Estado que contrai dívida externa em moeda doméstica.

 

O professor destacou ainda que o cenário de alta dos gastos públicos nos EUA e de consequente aumento da liquidez do sistema financeiro internacional tende a ser favorável à economia brasileira, que historicamente depende de poupança externa. Outro fator positivo para o Brasil é o bom desempenho recente da economia chinesa, que apresentou no quarto trimestre de 2020 taxa de crescimento acima das verificadas no período pré-pandemia. A recuperação da economia chinesa é uma condição essencial para a sustentação dos preços internacionais das commodities, com reflexos importantes para o desempenho econômico brasileiro.

 

Em relação à recuperação econômica do Brasil, no entanto, Castelar enfatizou a existência de desafios relevantes para o primeiro semestre de 2021. A economia brasileira será confrontada com os impactos negativos da contração fiscal, após o fim do auxílio emergencial e a descontinuidade de políticas governamentais de acesso a crédito para pequenas empresas. Segundo Castelar, a crise fiscal é o principal fator de risco para o desempenho da economia brasileira. Para se recuperar, o Brasil precisa continuar atraindo altos fluxos de investimentos externos; no entanto, uma deterioração do quadro fiscal poderia causar uma fuga de investimentos do país. Além disso, o primeiro semestre apresenta outros desafios de ordem política, cujos resultados são difíceis de prever, relacionados ao nível de comprometimento das autoridades políticas com a aquisição e difusão célere da vacina e à própria adesão da população brasileira à campanha de vacinação.

 

No entanto, o professor Castelar ressaltou que 2021 deve ser um "ano de 2 metades", com perspectivas mais favoráveis para o segundo semestre. Afirmou que não acredita em um cenário de demanda deprimida pela formação de poupança precaucional, hipótese levantada recentemente pelo COPOM, mas sim em uma rápida recuperação da demanda após a imunização coletiva. Destacou ainda que alguns fatores atuam em favor da recuperação econômica brasileira, tais como o cenário externo favorável e o bom desempenho de alguns setores domésticos, a exemplo das indústrias de transformações e de automóveis. Segundo Castelar, o reaquecimento do setor de serviços pessoais após a imunização coletiva, no segundo semestre, deve trazer efeitos positivos para a economia brasileira.

 

Clique aqui para assistir à íntegra da entrevista do professor Armando Castelar ao Valor Econômico.

Clique aqui para acessar um texto publicado em seu Blog, no qual o professor Castelar analisa a hipótese da estagnação secular e seus impactos sobre a política monetária contemporânea.